domingo, 20 de abril de 2008

Aves raras animam aldeia nos Estados Unidos

Os tetrazes-da-pradaria vêm voando do oeste para os campos de Eagleville, e aterrissam em meio à grama alta para dançar. É aqui que os mais exibidos machos da espécie fazem barulho a fim de atrair a atenção das fêmeas, usando uma espécie de grasnido grave que os moradores locais apelidaram de "boom". Em uma recente manhã fria, porém, apenas uma fêmea parecia interessada no espetáculo. Ela dedicou alguns minutos de atenção aos machos e depois se foi.

Tetrazes-da-Pradaria
Tetrazes-de-Pradaria

O mais importante para essa pequena aldeia de 275 moradores a meio caminho entre Des Moines, Iowa, e Kansas City, Missoury, talvez seja o fato de que os machos atraem visitantes a Eagleville, que como muitas outras antigas cidades do Centro-Oeste norte-americano não passa de uma relíquia desbotada da robusta comunidade agrícola que chegou a ser no passado.

A cada primavera, nos últimos anos, desde que os raros tetrazes-da-pradaria ressurgiram na cidade depois de décadas de ausência, contrariando todas as expectativas, a população humana local vêm em larga medida dobrando durante quatro semanas, com os visitantes que vêm para acompanhar os elaborados rituais de acasalamento dos pássaros.

Mais de 300 pessoas - ornitólogos e amadores- já confirmaram reserva em uma turnê orientada para ver os tetrazes este ano, e a lista de espera é longa, diz um guia. Existem apenas cerca de 500 tetrazes-da-pradaria no Missouri. Havia mais de 15 mil, 70 anos atrás. Os especialistas acreditam que o animal possa estar extinto, dentro de 10 anos.

"Todas essas pequenas comunidades procuram um nicho, uma maneira de atrair pessoas, ou fazê-las notar que existem", diz Randy Arndt, diretor do Dunn Ranch, em Eaglesville, de onde os visitantes assistem ao ritual de acasalamento. "É meio irônico que, aqui, o nicho viesse a se dever aos tetrazes, um animal que sempre viveu aqui, desapareceu e terminou voltando".

O turismo, que praticamente não existia na cidade, agora se tornou assunto quente. Uma pousada está para ser inaugurada, e as poucas velhas empresas que restam estão começando a sentir sinais de vida nova pela primeira vez em décadas.

"Ver as coisas por fotos não é igual", disse Jennifer McComb, negociante de antiguidades de St. Louis que esteve na cidade recentemente. "Eu chorei. É toda essa coisa da pradaria, e o fato de que as aves estão à beira do desaparecimento. Há pássaros que eu adoraria ter visto e desapareceram há muito. E estes talvez não sobrevivam. São complicados. São esquisitos. São especiais".

O tetraz tem ligeira semelhança com a galinha doméstica. Os machos têm listras marrons e creme pronunciadas em suas penas e sobrancelhas visíveis, e papos alaranjados que, quando desincham, emitem o ruído grave característico da espécie. As fêmeas são mais delicadas, e menos vistosas. Axel Lischewski, um gerente de empresa farmacêutica alemão que mora perto de Frankfurt, queria ver os tetrazes antes de concluir uma temporada de trabalho no Missouri. "Ouvi falar da oportunidade, e decidi arriscar¿, disse. "É um belo pássaro".

Os tetrazes escolheram o lugar porque se trata da maior extensão de pradaria não cultivada da região. Eles precisam de vastas áreas gramadas, e seu declínio está associado ao da pradaria tradicional, que continua a perder área em função da demanda mundial por alimentos, que pressiona a região em busca de safras cada vez maiores.

"O lugar era popular para os tetrazes até mais ou menos 1936, mas eles haviam desaparecido em 1950¿, diz Arndt. "Agora voltaram". A Nature Conservancy, uma organização ecológica sediada em Washington, é dona do terreno e oferece as excursões guiadas a custo zero. Os observadores de pássaros se reúnem no rancho e se escondem por trás de uma placa de madeira dotada de janelas retangulares de observação, instalada em plena pradaria. O espaço disponível pode acomodar até 10 pessoas por vez.

Agora, a visita anual das aves se tornou um ritual benéfico para a comunidade. A praça central de Eagleville se assemelha à de uma cidade fantasma, mas o único café local vive lotado no horário do almoço, e diversos dos participantes de uma visita matinal ao ponto de observação do acasalamento dos tetrazes aproveitaram para almoçar em um restaurante que atende os caminhoneiros de passagem pela região, o Dinner Bell.

Nadine Ball, professora de pedagogia em St. Louis, estava jantando em companhia de McComb, a negociante de antiguidades. "Isso oferece uma sensação de realidade", diz Ball. "Viajo muito, e a cultura homogeneizada me cansa. Mas quando você vem a uma cidadezinha como esta, não existe nada de enlatado. No entanto, o que eu mais sinto é tristeza ¿tristeza sobre os tetrazes, porque restam tão poucos deles, e porque a vida aqui é tão difícil. Espero que o ecoturismo decole".

Lisa Cracraft está contando com isso. Chefe da agência do correio em Denver, Missouri, uma cidade vizinha, ela está dando os toques finais em sua pousada, instalada em uma das maiores casas locais, inteiramente reformada. "Acredito que isso seja uma ótima oportunidade de nos colocarmos no mapa", disse. "Os tetrazes-da-pradaria realmente me propiciaram a chance de pensar em abrir um negócio como esse. Alguns anos atrás, eu nem pensaria nisso".
Fonte: Terra (Brasil)

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